Irish Pubs 0 x 1 Blockchain For Good Hackathon

Texto publicado no Medium em 09/10/2017

No meu primeiro final de semana em Dublin — para quem não sabe estou morando em Dublin agora. Depois posso contar mais sobre isso, porque ainda estou decidindo se uso o Medium como blog (ou se vou ter coragem de ficar escrevendo, para não acontecer o que aconteceu com o blog do outro intercâmbio que fiz)

Voltando ao ponto: no meu primeiro final de semana em Dublin, ao invés de ir para um pub como toda pessoa normal faria, eu inventei de participar de um Hackathon!

Descobri sobre esse Hackathon já quando estava no aeroporto e me inscrevi na hora devido ao tema:

Blockchain For Good! *-* ❤

Nunca tinha participado de um Hackathon antes e não conhecia absolutamente ninguém lá, mas estou aqui para me desafiar, então lá fui eu caminhando por mais de 30 minutos, plena 7 horas da manhã de sábado, passando um frio de 9ºC (isso é muito frio para mim, porque em Teresina estava 40ºC quando eu saí)…

O evento aconteceu no prédio da Accenture The Dock— que é um centro de pesquisa e incubação multidisciplinar da Accenture ❤ #opredioélindo. Foi muito bem organizado e tinha muita gente incrível participando e mentorando

Brian Behlendorf — Hyperledger

Hackathon

Antes de continuar, uma coisa importante de esclarecer é o que é Hackathon (nem todo mundo sabe e vc não é obrigado a saber):

Segundo aWikipédia“É uma maratona de programação na qual hackers(1)se reúnem por horas, dias ou até semanas, a fim de explorar dados abertos, desvendar códigos e sistemas lógicos, discutir novas ideias e desenvolver projetos de software ou mesmo de hardware. Por ser um evento público (também referido como hack day, hackfest ou codefest), a maratona dá visibilidade e transparência a essas atividades, além de divulgar os novos produtos gerados”

Em resumo a ideia era juntar pessoas interessadas em Blockchain — não necessariamente especialistas — que estivessem dispostas a passar 2 dias pensando e implementando soluções para problemas em duas áreas principais.

*(1). Pessoas interessadas em entender profundamente um assunto ou tecnologia*

Blockchain

Outra coisa que não pode faltar é a definição de Blockchain (se vc não é obrigado a saber o que é Hackathon, imagina Blockchain! — mas fica ligado porque ainda vai ouvir falar muito disso!)

Blockchain é uma base de dados descentralizada que armazena registro de transações. Essa tecnologia permite que as pessoas possam fazer transações ponto a ponto, sem depender de um intermediário ou um órgão regulador. As transações são seguras por criptografia e com o tempo, esse histórico de transações fica trancando em blocos de dados que são então criptograficamente ligados e protegidos. Isso cria um registo imutável e impossível de falsificar de todas as transações da rede.

Geralmente as pessoas associam Blockchain ao BitCoin e outras criptomoedas, mas não é só no BitCoin que é possível usar a Blockchain, como o Hackathon propôs e como vou mostrar mais adiante.

#blochain4good

Então o objetivo, como o próprio nome do Hackathon diz, era usar a tecnologia da Blockchain para gerar impacto positivo no mundo, criando soluções para problemas em duas áreas:

1. Identidade digital

O caso da identidade digital passa por encontrar soluções para o problema de pessoas que não tem como comprovar sua identidade, como refugiados ou pessoas de países subdesenvolvidos, e assim ficam impedidos de ter acesso às necessidades mais básicas como saúde, educação etc. Por isso estabelecer uma única prova de identidade sem fronteiras é essencial.

Outro problema relacionado a identidade digital é o da quantidade de dados e identidades que temos espalhadas pela rede e como recuperar o controle disso. Com Blockchain é possível criar um registro único de identidade na rede, que é reconhecido internacionalmente e independe de governo, além de que o usuário tem controle sobre seus dados, controlando autenticações e liberando informações de acordo com a necessidade, ao invés de disponibilizar de uma vez só todos os seus dados.

Um exemplo seria, quando alguém precisar provar que é maior de idade, ao invés de mostrar sua identidade com dados como data de nascimento e outros, o solicitante faria uma requisição à Blockchain que responderia simplesmente se a pessoa é maior de idade ou não, sem mostrar outras informações e dando a segurança de que aquela informação é verdadeira.
Além desses existem vários outros casos relacionados à identidade que é possível resolver com Blockchain

2. Cadeia de suprimentos

Estabelecer práticas sustentáveis é essencial para o futuro do planeta e o desenvolvimento das próximas gerações. Muito tem se falado sobre isso ultimamente e algumas empresas já entenderam que para continuar a crescer e se desenvolver precisam adotar práticas sustentáveis. Mas como saber se elas realmente estão sendo sustentáveis? Como garantir transparência produção dos insumos?

Encontrar essas respostas não é fácil, pois cada etapa da produção tem seus próprios modos de registrar informações e com a tecnologia que usamos no dia a dia se torna muito difícil acompanhar tudo de forma confiável. Mas com a Blockchain é possível rastrear todos os passos do desenvolvimento de um produto, garantindo que protocolos sustentáveis serão mantidos, estabelecendo uma relação mais direta e transparente entre produtor e consumidor.

Então a Blockchain é a solução para todos os problemas do mundo?

Não! Uma coisa que um mentor da Accenture falou e que me ajudou a entender quando usar blockchain é:

Se usa Blockchain quando as partes não confiam umas nas outras

Geralmente precisamos de uma terceira pessoa para validar relações de confiança. No exemplo mais comum que temos, que é o sistema bancário, precisamos de um órgão regulador, como um banco, para intermediar as transações, gerenciar contas, verificar saldos e validar transferências. A Blockchain então entra em problemas em que ela pode substituir um órgão regulador, no caso das criptomoedas, substitui a figura do banco fazendo todas as validações e garantindo a segurança e veracidade nas transações.

Por esse motivo a Blockchain também é conhecida como“The Trust Protocol”.

Voltando ao Hackathon

O Hackathon começou com o café da manhã e um horário de networking para que as pessoas conversassem livremente e se conhecessem. Essa foi a pior parte para mim, porque sou péssima com esse negócio de networking. Depois tivemos apresentações sobre os problemas e uma introdução sobre o Hyperledger.

O Hyperledger é um projeto open source desenvolvido colaborativamente por várias organizações e hospedado pela Linux Foundation para desenvolver tecnologias para Blockchain. No Hackathon iríamos usar os projetos do Hyperledger para implementar as soluções.

Tracy Kuhrt — Hyperledger

Encontrando um projeto para contribuir

Quando vi pela primeira vez os temas do evento, fiquei muito feliz, mas também muito na dúvida de qual contribuir, porque esses são os dois temas que eu tenho tido mais interesse ultimamente e coincidentemente caíram juntos no mesmo lugar. Então eu cheguei lá sem saber o que fazer, porque eu queria trabalhar com os dois! Mas decidi que como não tinha nenhuma ideia desenvolvida, iria esperar para ouvir os projetos das outras pessoas e me juntar ao time que eu achasse mais interessante. E foi o que fiz…

Durante a parte de networking conheci um Indiano que tinha uma ideia muito legal, parecida com alguns projetos que eu tinha tentado criar antes: era sobre mapear a cadeia de produção de alimentos. Eu fiquei super empolgada com a ideia e ele percebendo isso me convidou para me juntar ao time(que já estava quase completo, fui a última a entrar, ufa!)
Além de mim e do Indiano (que eu ainda não consigo pronunciar o nome), o time era composto por mais 3 Portugueses bem legais e entre eles outra mulher (Aêêê!).

Seguindo a programação tivemos a parte dos pitches onde as pessoas que já tinham uma ideia de projeto iam a frente falar sobre ela e convidar pessoas para ajudar a desenvolver. Após isso tivemos uma sessão técnica sobre o Hyperledger. Alguns core developers de alguns projetos da Hyperledger estavam lá para ajudar, então eles falaram sobre os primeiros passos na ferramenta.

Desenvolvimento

O primeiro dia foi para definir como seria o projeto e começar a desenvolve-lo. Foi muito difícil no meu time chegar a um consenso do que iríamos fazer, minha cabeça ficou doendo de tentar organizar as coisas, porque cada pessoa tinha entendido a ideia de uma maneira diferente e quando a gente achava que estava decidido o que íamos fazer, alguém falava um ponto de vista diferente. Sério, a parte de código foi moleza perto dessa.

Ao final o nosso projeto — chamado HyperFood— era desenvolver uma ferramenta em que as pessoas pudessem saber a origem dos alimentos que consomem, tendo a certeza se ele é seguro. Definimos alguns fatores que seriam relevantes para definir a segurança de um alimento, como origem da semente, se foi usado pesticida, qualidade da água, do solo, o tipo de fertilizante usado e a cidade/país de origem do produto. Cada etapa da produção então seria colocada na Blockchain e as pessoas poderiam verificar todas essas informações sobre os seus alimentos.

Meu time trabalhando

O que se seguiu de evento no final do primeiro dia e o começo do segundo, foi a corrida contra o tempo de todos os times para conseguir terminar um produto mínimo da aplicação do seu projeto, preparar a apresentação para os jurados e torcer para levar o prêmio de 8.500 euros!

Times trabalhando

Resultado

Ao final surgiram ideias muito interessantes, vou colocar aqui algumas que eu consigo lembrar: (Desculpem a falta de detalhes, não lembro com muito bem das ideias ou dos nomes dos times/projetos):

Dados como moeda

A ideia era que ao invés de dar seus dados gratuitamente para as empresas, as pessoas pudessem retomar o controle dos seus dados e vende-los.

Identidade para cachorros

Na Irlanda os cachorros todos os cachorros tem uma coleira com um chip que os identifica, porém as bases de dados que possuem essas informações não se comunicam e cachorros perdidos são eutanasiados em muito pouco tempo. O projeto então propôs criar uma rede de identificação única para os cachorros que agilizasse o processo de encontrar cachorros perdidos.
Essa foi a ideia ganhadora e os jurados gostaram bastante tanto pela ideia como pela apresentação e também a aplicação da solução para outros problemas.

Sustentabilidade

A proposta desse projeto era calcular a pegada de carbono dos produtos, assim quando um usuário comprasse uma camisa, por exemplo, poderia saber detalhadamente a pegada de carbono que aquela peça gerou.

Além desses, tiveram outros projetos nos temas de erros médicos, transparência em doações, pesquisas acadêmicas etc. Tudo isso mostra o quão amplas são as possibilidades da Blockchain. Claro que a parte de colocar essas ideias na prática é que vai provar se elas são viáveis ou não.

...

Fazer parte desse Hackathon foi uma decisão muito espontânea, mas que sem querer acabou fazendo muito sentido para mim e para o que eu quero do futuro da minha carreira na TI. Desde que ele terminou tenho me dedicado a entender mais sobre Blockchain e tenho visto que isso é realmente algo incrível e que eu quero estudar mais profundamente. :)

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© 2021 • Camila Vilarinho